Justiça nega pedido de Saul Klein para antecipar parte da herança do pai, fundador das Casas Bahia
27/08/2025
(Foto: Reprodução) Saul Klein
Reprodução/Prefeitura de Araraquara
A Justiça de São Paulo negou o pedido de antecipação de parte da herança do pai feito pelo empresário Saul Klein, de 71 anos, filho do fundador das Casas Bahia.
A decisão do juiz José Francisco Matos, da 4ª Vara Cível de São Caetano do Sul, é da segunda-feira (25).
Saul havia alegado estado grave de saúde, internação em UTI e falta de liquidez pessoal para custear despesas médicas. Ele pediu a liberação de valores referentes ao que considera seu quinhão incontroverso da herança.
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Na decisão, porém, o magistrado destacou contradições no pedido. Segundo ele, Saul contesta a validade do documento que embasa o inventário, mas, ao mesmo tempo, tenta se beneficiar de seus termos. "Tal postura processual, além de incoerente, não encontra amparo legal, uma vez que não se pode, simultaneamente, atacar a validade de um ato e extrair dele efeitos jurídicos úteis apenas quando conveniente", afirmou o magistrado.
O juiz também lembrou que o herdeiro já havia recebido cerca de R$ 30 milhões como adiantamento em momento anterior.
O processo de inventário de Samuel Klein, morto em 2014, se arrasta há mais de dez anos e envolve acusações de ocultação de bens e doações irregulares. Além disso, ainda está em andamento uma ação de investigação de paternidade, que pode incluir um novo herdeiro e alterar a divisão do patrimônio estimado em R$ 499 milhões.
Para o juiz, não há parcela incontroversa que possa ser liberada a Saul neste momento, justamente pela existência de disputas em aberto. Ele também ressaltou que, embora a gravidade do quadro de saúde do herdeiro seja reconhecida, não ficou comprovada a necessidade urgente de recursos além daqueles já cobertos por plano de saúde ou contrato com empresa que oferece a ele uma renda mensal.
A irmã de Saul, Eva Klein, havia pedido que Saul fosse condenado por litigância de má-fé, mas o juiz rejeitou esse ponto. Segundo ele, apesar das contradições, não ficou caracterizada intenção deliberada de fraudar ou enganar a Justiça.
Com a decisão, Saul não poderá antecipar novos valores da herança. O inventário segue em andamento no Tribunal de Justiça de São Paulo. Cabe recurso à decisão.
O g1 entrou em contato com a defesa de Saul e aguarda resposta. Procurado, Michael Klein, irmão de Saul e inventariante, informou que não vai se manifestar sobre a decisão.
Cirurgia
Saul foi condenado em R$ 30 milhões por tráfico de pessoas para fins de trabalho escravo sexual em 2023.
Em 11 de julho, o empresário — caçula do fundador das Casas Bahia — precisou realizar uma cirurgia emergencial. Ele teria sido encontrado em casa em estado grave, com uma infecção generalizada causada por uma perfuração de úlcera gástrica hemorrágica.
Em seguida, Saul foi encaminhado à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Vila Nova Star, um dos mais caros de São Paulo. Procurado, o hospital não informou o estado de saúde dele. Nota encaminhada pela defesa de Michael Klein afirma que, "em 16.07.2025, Saul Klein noticiou que estaria hospitalizado no luxuoso 'Hospital Vila Nova Star', sem previsão de alta médica. No entanto, o patrono de Saul Klein, poucos dias depois entrou em contato com os advogados do Inventariante Michael Klein e informaram que seu cliente já recebera alta hospitalar.
No relatório, assinado pelo médico Roberto Sebastian Zeballos e anexado à liminar, também é descrito que Saul apresentou anemia intensa durante a internação, com necessidade de transfusão sanguínea e cirurgia em caráter de emergência.
"Por isso, é fundamental que o senhor Saul Klein se proteja e se blinde de situações estressantes por pelo menos três meses", afirma o médico.
Os advogados que representam o empresário ainda alegam que "Saul necessita, com urgência, de amparo material e tranquilidade mínima para viabilizar sua recuperação" e que ele "luta pela própria sobrevivência".
O juiz José Francisco Matos deu prazo de 15 dias para as partes se manifestarem.
Condenação por tráfico de mulheres
Saul Klein foi condenado, em 14 de julho de 2023, pela Justiça do Trabalho a pagar uma indenização de R$ 30 milhões por aliciar jovens mulheres e adolescentes com falsas promessas de trabalho e as explorar sexualmente, submetendo-as a condição análoga à escravidão.
A decisão da Justiça foi uma resposta à ação civil pública movida pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) em outubro de 2022.
Relembre denúncias contra Saul Klein
No documento, o órgão dizia que "o desprezo do réu pela dignidade das mulheres, sua autonomia, liberdade e saúde sexual viola o pacto social e normativo de respeito à condição humana".
Segundo investigado pelo MPT, Saul atraía jovens entre 16 e 21 anos que estavam em situação de vulnerabilidade social e econômica, oferecendo trabalhos de modelo.
As moças eram inseridas num esquema de exploração sexual no sítio do empresário, em Boituva, no interior de São Paulo.
Durante dias, elas eram obrigadas a manter relações sexuais com o réu, enquanto ficavam sob forte violência psicológica e vigilância armada.
O órgão também averiguou que a privação de liberdade e as práticas sexuais forçadas causaram "graves consequências psicológicas para as vítimas, [que] ainda foram contaminadas por doenças sexualmente transmissíveis".
Na sentença, a Justiça do Trabalho destacou que o esquema no qual o empresário estava envolvido "feriu aspectos íntimos da dignidade da pessoa humana, causou transtornos irreparáveis nas vítimas e mudou definitivamente o curso da vida de cada uma delas".
O Poder Judiciário considerou também que Saul se utilizava de sua grande influência e poder econômico para praticar os crimes, o que implica que pode realizá-los novamente.
A condenação de Saul se tornou a maior do país por tráfico de pessoas e a segunda maior por dano moral coletivo pela prática de trabalho escravo.